Pontos a destacar numa Terapia de Casal
11 de dezembro de 2015David van Dyke estará no Workshop 2016
22 de março de 2016Professora Marianne Ramos Feijó sempre pontual e voluntariamente tem contribuído para trocas de experiências profissionais, colaborando na formação de profissionais que poderão concretizar mudanças importantes nas áreas sociais e de saúde. No Workshop 2015, foi também uma das importantes colaboradoras.
Para ampliar nossa visão sobre a função do terapeuta, ela nos enviou este precioso artigo, confira!
O terapeuta familiar e a saúde humana: uma visão sistêmica e complexa
A terapia familiar, quando embasada nos estudos sobre os sistemas e sobre a comunicação, nas teorias construcionistas e na epistemologia construtivista, volta-se para o incremento do bem-estar e da saúde dos membros familiares que a procuram (Macedo et al., 2015). Segundo esse enfoque, o terapeuta caracteriza-se como um profissional da saúde, comprometido com o cuidado de aspectos sociais, físicos e psíquicos, com a ciência de que os mesmos são interdependentes, afetam e são afetados entre si; de que a saúde humana afeta relações, processos psíquicos e condições físicas, sendo ao mesmo tempo modificada e mantida pelos mesmos (Feijó, 2015).
Profissionais da saúde, na atualidade, podem ter diferentes funções, especialidades, contextos e tarefas laborais. Diversidade e especificidade são importantes, na medida em que corpos e pessoas são complexos, suas relações e meios de viver também. A especificidade ou especialização, não deve, porém, ser motivo de fechamento e de defesa de um único ponto de vista ou de um único método de promoção da saúde. A atuação conjunta, multiprofissional, que inclui temas trabalhados transversalmente, além de ações específicas, tem se mostrado útil e preventiva.
Defendo atualmente, que o terapeuta de família deva conhecer estudos recentes e complexos sobre a saúde, que adquira visão mais holística e integrativa (Capra, 1982; Morin, 2011; Silva et al. 2015; Vasconcelos, 2003;) e a comunique aos seus colegas de trabalho, para que juntos e em colaboração com aqueles que atendem, alcancem melhorias físicas, relacionais e contextuais, promotoras de saúde. Sabe-se hoje, que certas condições de vida são insalubres e que nas relações sociais e por meio da inclusão o indivíduo constrói sua identidade, da qual dependem suas escolhas e autonomia (Sluzki, 1997).
A inequidade tem sido um grande fator gerador de adoecimento nas famílias, na escola, no trabalho e em outros espaços de convivência. Gerar reflexão sobre possibilidades de alcance de maior equilíbrio de oportunidades nas relações e espaços sociais, legitimar o outro e suas diferenças e validar seus valores, sonhos e ideais de vida (desde que não violentos) podem ser funções importantes para todo o profissional de saúde. Para isso, é importante que ele se veja como parte de uma equipe, de uma família e de uma sociedade; corresponsável por mudanças sociais necessárias, inclusive para que o acesso aos direitos de saúde e outros, seja mais amplo e menos desigual.
O profissional deve saber diagnosticar para atuar, segundo sua formação, mas também deve estar preparado para trocar com colegas e conhecer e explorar o que há de bom; a força das pessoas e dos grupos, aspectos resilientes, criativos, ideias e meios pelos quais enfrentam dificuldades e resolvem problemas.
O profissional de saúde, não pode, portanto, considerar seu trabalho desligado das questões de gênero, de etnia e socioeconômicas, dentre outras que estão na base de preconceitos e de ações discriminatórias e violentas, que geram sofrimento, estresse e adoecimento. Também não deve desconsiderar outros meios de desenvolvimento social e de saúde. Deve, sim, estabelecer constantes trocas com outros profissionais, sobre tais questões e sobre particularidades de pessoas em comum, por eles atendidas, com a intenção de oferecer tratamentos e ações mais significativas, integradas e colaborativas. Ações que não desconsideram intervenções necessárias e benéficas que podem e devem ser realizadas em busca pelo bem estar e pelo restabelecimento das condições de saúde, que são tão importantes quanto aquelas que reforçam o que há de positivo, único, original, legítimo. Isto significa cuidar bem.
Vale lembrar, porém, que o profissional da saúde, para cuidar bem, precisa ser cuidado; para compreender e valorizar as necessidades e diferenças, precisa ser reconhecido e atendido.
As bases epistemológicas e principais teorias, que atualmente sustentam práticas sistêmicas voltadas ao desenvolvimento humano e social, tais como o construtivismo e as teorias socioconstrucionistas sobre a construção da identidade por meio da linguagem e nas relações (Grandesso, 2000; Sluzki, 1997),oferecem lentes que se utilizadas no trabalho em equipe multidisciplinar, discutidas e complementadas por ações transdisciplinares, poderão aumentar a efetividade e a pertinência de serviços voltados ao bem-estar e à saúde de pessoas (Feijó, 2015).
Terapia Familiar e de Casal, Mediação de Conflitos, Terapia Narrativa e Grupos Reflexivos, são algumas das práticas chamadas de sistêmicas novo-paradigmáticas (Grandesso, 2000; Vasconcelos, 2003; Feijó e Macedo, 2012), sistêmicas-complexas (Morin, 2011) ou integrativas (Silva et al. 2015).
Marianne Ramos Feijó
mariannefeijo@fc.unesp.br
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Bauru
Referências
• CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1982
• FEIJÓ, M. Equipes multidisciplinares e intervenções em redes sociais na área de saúde segundo o pensamento sistêmico-complexo. Mini-curso realizado naXXII Semana e IX Congresso de Psicologia da UNESP Bauru,2015.
• FEIJÓ, M. MACEDO, R. Família e práticas para o desenvolvimento humano e social In CERVENY, C. (org) Família e Intergeracionalidade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012
• GRANDESSO, M. Sobre a reconstrução do significado: uma análise epistemológica e hermenêutica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
• MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2011.
• VASCONCELOS, M.J. O Pensamento Sistêmico. Campinas. Papirus, 2003
• SILVA, E.; MOURA, Y.; ZUGMAN, D. Vulnerabilidades, Resiliência, Redes – uso, abuso e dependência de drogas. São Paulo: Red Publicações, 2015
• SLUZKI, C. Rede Social na Pratica Sistêmica: alternativas terapêuticas, Casa do Psicólogo, 1997.